Uma fechou semana passada: só restam 180 leitos em duas, em Santa Cruz e Valença, que funcionam precariamente. Espera por vaga demora até sete meses“A situação é absurda. O descaso conosco é total. Não temos socorro do poder público”, desabafa o presidente da ADQR, Marcelo da Rocha. “Na rede privada, o tratamento é muito caro. Pode custar até R$ 12 mil por mês”, lamenta.

Os repasses de R$ 670 mil feitos pela Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH) se tornaram irregulares. A Clínica Nise da Silveira, de Barra Mansa, administrada pela ONG Semente do Amanhã, parou de funcionar dia 30. “Não tínhamos como arcar com as despesas. O estado não nos repassa recursos desde dezembro”, alegou a diretora da clínica, Paula Nader. A Clínica Michele da Silveira de Morais, de Santa Cruz, também ficou meio ano fechada por falta da verba do estado.
Desolado, X., 24 anos, viciado há 7 em cocaína e drogas sintéticas esperou 7 meses por vaga na Nise da Silveira. Com 15 dias e internação, ela fechou: “Fui pego de surpresa. Avisaram meus parentes para vir me buscar no dia do fechamento. Temo uma recaída”.

Interrupção de tratamento é fatal

Drama parecido vive M., 52 anos, cujo filho Y., 19, é viciado em crack. Seu tratamento foi interrompido em setembro, com o fechamento da clínica de Santa Cruz: “Ele voltou a dormir nas ruas e nem sei se está vivo”.
A interrupção pode ser fatal. “O usuário acaba tendo recaída e volta para o vício. Não raramente, esse retorno é fatal”, adverte a psicóloga Cristiane Yokoyama.
A Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos informou que em 40 dias abrirá 320 vagas em mais cinco unidades, mantidas por ONGs. Serão R$ 10 milhões de investimento. O órgão explicou que dívidas da Sementes do Amanhã com a Receita Federal e o INSS leveram à suspensão da verba.

INTERNAÇÃO SÓ ATRAVÉS DA JUSTIÇA - MARCELO DA ROCHA - PRESIDENTE DE ASSOCIAÇÃO
O presidente da ADQR, Marcelo da Rocha, não poupa críticas ao governo do estado que, na sua opinião, “não tem compromisso” com a recuperação de dependentes.

1. Há outro meio para se conseguir internação, a não ser esperando até 7 meses na fila?
— Marcelo: Só através da Justiça. Boa parte das internações em clínicas públicas só tem sido conseguidas por meio de liminares. Ano passado, foram 50 casos.

2. Mas a Secretaria de Assistência Social diz estar se esforçando para prestar atendimento adequado.
—  Ao contrário. O estado está cada vez mais abandonando os dependentes químicos, pois sabe que as clínicas mandam com frequência pacientes para casa sem esboçar responsabilidade. Infelizmente, ninguém toma providência.
3. É fácil conseguir informação sobre vaga?
— Não existe um banco de vagas acessível para consultas públicas. Deveria haver cadastro único e sigiloso de dependentes. Não há controle.

4. E os projetos do governo municipal?
São falhos também. Falam em abrir mais leitos com apoio do governo federal, mas também não acolhem os que querem se tratar. A internação compulsória, então, soa como contrassenso.
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