"Há autores brasileiros sensacionais que
precisam ser lidos, mas de quem os novos leitores estão se distanciando
um pouco porque os assuntos [abordados pelos escritores] talvez já não
ecoem tanto entre os jovens. Há um hiato geracional e eu acredito que o
público e o mercado editorial brasileiro esperam o surgimento de um
escritor de qualidade capaz de dialogar com a nova geração. Um autor em
pé de igualdade com as pessoas que estão se comunicando nas redes
sociais", afirmou à Agência Brasil.
Citando a última pesquisa Retratos da
Leitura, na qual cerca de 80% dos entrevistados disseram que não leem
porque não gostam, Silveira disse que percebeu que as pessoas de sua
faixa etária, quando perguntadas, costumam apontar autores brasileiros
entre os que marcaram sua infância. Nomes como Monteiro Lobato e Lygia
Bojunga.
"Se formos perguntar o mesmo a uma
criança, hoje, a quantidade de obras nacionais será muito pequena",
argumentou o editor. Para ele, isso é resultado não apenas da "pressão
muito forte dos mega best-sellers", enfrentada por autores brasileiros
de literatura infantojuvenil, mas também pelo fato de nenhum escritor
contemporâneo nacional conseguir se comunicar com uma grande parcela do
público jovem.
"Mesmo que numa linguagem pouco
compreensível, os jovens estão escrevendo dia e noite nas redes sociais.
Se as pessoas estão lendo e escrevendo, estão aptas a se apropriar da
linguagem literária. E como há mais gente podendo comprar livros, que
estão mais baratos que há algumas décadas, acho que falta surgir um
escritor capaz de absorver naturalmente essa cultura e se aproveitar
deste cenário", disse Silveira.
"Talvez esse novo galvanizador
[animador] da literatura e da linguagem atual já esteja por aí e caiba
às editoras identificá-lo, embora eu ache que os novos fenômenos vão
surgir naturalmente da internet", disse Silveira, citando escritores
que, a exemplo do que já ocorre há pelo menos uma década na música,
atingiram sucesso comercial explorando as possibilidades de divulgação
da rede mundial de computadores, como André Vianco e Thalita Rebouças,
autores que já venderam mais de 1 milhão de exemplares de suas obras e
são cultuados entre muitos adolescentes.
"Cada um em seu segmento já está
atingindo em cheio os anseios de um público específico, mas são sucessos
subterrâneos, surgidos na internet, e só posteriormente absorvidos pela
indústria. Ainda não temos o grande escritor brasileiro dos anos 2010",
destacou.
Silveira classifica suas próprias
observações de audaciosas e diz que está à procura de um título ou autor
capaz de vender muito bem o que, segundo ele, é importante para as
editoras, mas também para os leitores.
"Não estou falando em simplificações [de
linguagens]. Guimarães Rosa conseguiu se comunicar muito bem mesmo
tendo praticamente inventado uma linguagem. Não estou preocupado que o
autor queira escrever de forma condenável pelos acadêmicos. Quero é
abraçar a qualquer um que venda 1 milhão de livros, mesmo que alguns
considerem sua obra subliteratura, porque, no Brasil, isso [vender 1
milhão de livros] é heroico e contribui de alguma maneira para a cultura
brasileira", destacou.
Fonte: Agência Brasil