Uma série de debates está dando continuidade ao maior festival estudantil da América Latina esta semana com os mais diversos temas do interesse juvenil. No calor de 40° que fazia o Rio de Janeiro nesta quarta-feira, a tenda da Areia na Praia surpreendeu ao unir, em plena tarde, vários estudantes interessados em discutir produção Independente e novas formas de distribuição da música no Brasil.
A comercialização e o crescimento do mercado da música independente deram o tom das discussões com os convidados Talles Lopes, presidente da Abrafin e da rede Fora do Eixo; Valério Benfica, presidente do CPC da UMES; Fabiana Menini, presidente do instituto Trocando Ideias; e Rômulo Costa, secretário de Cultura do Rio de Janeiro e dono da Furacão 2000. Em meio a opiniões divergentes e diferentes propostas para o andamento da produção fonográfica, ficou o consenso geral de que, nos últimos anos, essa indústria tem passado por distintas transformações.
Destacam-se, entre elas, o vertiginoso crescimento do comércio informal e o surgimento de novos hábitos de produção e de consumo de música, promovidos pelas novas tecnologias da comunicação. Este cenário provocou mudanças nas características do mercado nacional, como a diminuição do mercado formal e déficits das grandes gravadoras.
E embora seja o produto brasileiro de maior penetração internacional, o único com acesso às redes globais de distribuição e à grande mídia global, “a música popular brasileira ainda padece da ausência de uma política de desenvolvimento adequada”, segundo Valério Benfica. Para ele, não é papel do Estado selecionar o que é ou não é música a ser apoiada, mas definir o marco de um ambiente favorável, que permita o florescimento de uma indústria musical competitiva e democrática.
Para Talles, as relações de mercado no que diz respeito à produção independente se tornaram ainda mais favoráveis às pequenas iniciativas do setor da música, já que os novos desafios da indústria fonográfica em função da facilidade de acesso à qualquer informação criou solo ainda mais fértil para os pequenos empreendimentos, especialmente àqueles com características mais cooperativas. “A grande mudança que vem acontecendo nessa construção é justamente a colocação de um novo paradigma: a indústria fonográfica não é um monstro, ela é falida. Se formos pegar a lista dos dez melhores discos do ano, não existe nenhum disco lançado por gravadora. Todas são produções independentes. Se a gente não trabalhasse com a produção de uma rede, de uma união de pequenos empreendedores, não conseguiria uma plataforma. É preciso se unir para fortalecer o processo”, afirmou.
Rômulo Costa e Fabiana Menini eram experiências vivas em meio a discussão e contribuíram analisando os caminhos e acertos de cada um. O dono da Furacão 2000, uma equipe de som carioca que produz coletâneas e shows de Funk, e a principal responsável pela divulgação e popularização do gênero pelo país, comentou a alternativa em vender discos em bancas de jornais por apenas R$9,00. “Hoje em dia ninguém compra CD. Tivemos uma experiência de dez anos com a Som Livre e percebemos que ser independente no Brasil é compensado pelo custo/benefício. A dificuldade do independente é ser aceito nas grandes magazines. Mas pra que também vender nos grandes pontos de comércio? Vamos baratear, assim desperta nas pessoas a vontade de ter o CD”, analisou Rômulo Costa.
Fabiana Menini explicou a proposta do Instituto Trocando Ideias. O grupo promove diferentes formas de saberes e integrações e fortalece encontros de diversos atores da cultura e movimento Hip Hop e de todas as juventudes, formando uma rede de contribuição extremamente sólida e produtiva com frutos reconhecidos no meio social e no meio cultural. “Promover, divulgar e encaminhar os artistas para a distribuidora. Esse é o objetivo do instituto. É importante dar apoio aos jovens artistas, através de oficinas, aulas, etc. para divulgarmos os trabalhos destes talentos”, explicou.