A principal preocupação da maioria dos ingressantes na universidade é a melhoria de sua colocação no mercado de trabalho, seja ele jovem ou de idade mais avançada. Com a expansão do ensino privado, entrar na universidade é possível para uma maior parcela da população brasileira. Essa expansão só foi possível quando, na década de 90, o Estado brasileiro aderiu ao projeto neoliberal, entregou a formação da sua mão de obra à iniciativa privada e se ausentou de uma construção de um projeto nacional, visto que o projeto neoliberal propõe a desregulamentação do estado e o entrega as leis da economia privada.
Atualmente como o ensino privado permanece não regulamentado pelo Estado, tornou-se um comércio que forma mão de obra que muitas vezes é ociosa e não insere seus egressos de acordo com a necessidade do mundo do trabalho, ou então falta mão de obra qualificada em outras áreas. Isso acontece porque o ensino privado não está integrado com um projeto nacional de desenvolvimento.
Uma outra preocupação anterior a problemática apresentada era a questão do acesso ao ensino superior, cenário gradualmente alterado na última década. Podemos elencar pelo menos três motivos para essa mudança, um deles seria o barateamento dos cursos em instituições de ensino privado e elevação do salário mínimo; podemos citar também o ProUni (Programa universidade para todos), criado em 2002 e que já concedeu 600 mil bolsas para pessoas de baixa renda em instituições privadas; e por último temos o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que em apenas um ano aumentou 11% do percentual de vagas oferecidas em universidades públicas federais.
Um outro problema que surge com a falta de regulamentação do ensino privado é quanto a qualidade dos cursos oferecidos, uma vez que o mercado alega que os profissionais formados não estão aptos a assumir as respectivas funções. Com o aumento do acesso, precisamos nos debruçar diante do principal problema que surge, que está diretamente vinculado ao mundo do trabalho. Como fazer com os egressos que não se inserem em sua área de formação? Como formar mão de obra qualificada pras áreas demandadas pelo mercado? Como formar mão de obra qualificada para o mercado com estudantes que entram em contato com sua profissão apenas nas salas de aula, por falta de incentivo a pesquisa e extensão e estágio?
Diante dessa questões, o projeto nacional de desenvolvimento e regulamentação do ensino privado estão intrinsecamente relacionadas, mas como não depende apenas de nossos anseios, parte dessas soluções podem ser sanadas em nossas propostas em políticas públicas sociais. Tocarei na questão do estágio enquanto aplicação dos conhecimentos obtidos em sala de aula e oportunidade de extensão. A regulamentação do estágio, que sempre foi uma bandeira nossa e apresentada pela deputada Manuela D’avila no congresso federal, deve ser muito valorizada. No entanto, toca apenas na regulamentação de uma situação trabalhista já existente, mas de qualquer forma foi um grande avanço.Um dos problemas enfrentados pelo universitário que opta pelo estágio ainda é a questão da diminuição da sua renda, o que o coloca em uma encruzilhada principalmente para aqueles que estudam em universidades privadas. Por isso precisamos de algumas saídas efetivas para a realidade apresentada hoje independente da regulamentação ou não. Uma proposta seria a isenção do pagamento da mensalidade do universitário que fizer estágios em órgão públicos, uma vez que essa atividade muitas vezes não é remunerada ou conta com apenas uma pequena bolsa-auxílio. Essa medida poderia auxiliar na aplicação dos estudos obtidos em sala de aula, melhorar o currículo dos nossos futuros profissionais e aumentar o tempo de dedicação aos estudos desses universitários uma vez que o estágio conta com uma carga horária menor, bem como ajudaria muito no setor de serviços públicos que atualmente são gargalos em nosso país (educação, saúde, segurança pública, judiciário etc.)
Além do estudante partilhar o conhecimento obtido com a sociedade, um programa nesses moldes, se desenvolvido em parceria com as instituições de ensino enquanto extensão, ajudaria as respectivas universidades a melhorar seus indicadores nas avaliações do CONAES (Conselho nacional de avaliação do ensino superior). Em meio ao Dia Nacional do Estudante, espero que possamos refletir o quanto um plataforma eleitoral construída pelos estudantes lá no CONEG da UNE,chamada Projeto Brasil, está relacionada com a nossa vida e nosso futuro.
Nathalia Oliveira UEE-SP.